Mercado de mangás e light novels no Brasil


Você sabia que, apesar de estranho, ele existe?
Pode não ser tão difundido quanto os livros dos youtubers mais famosos, mas acredite, ele existe.

Apesar de muita gente ler mangás/light novels na internet, traduzidos por fãs, existe um mercado nacional real, com vendas físicas e trabalho sério envolvendo tudo, com licenças e marketing.
E quando se fala do mercado oficial do assunto, é importante delimitar de quem falamos. Apesar de haver outras editoras lançando materiais (como exemplo da Nova Sampa, L&PM, e outras já falidas.), vou tratar realmente somente das mais poderosas hoje no mercado. Sendo assim, seguem:


Panini

Editora multinacional, sediada na Itália, atuando fortemente em vários ramos de HQs e mangás. No Brasil, a editora trabalha com distribuição de mangás desde 2002, mas somente a partir de meados de 2006/2007 que a editora passou a ser vista realmente como concorrente de mercado brasileiro, ampliando o leque de obras e de títulos de peso.
Entre seu catálogo, possui em curso obras como: Naruto, One Piece, Vagabond, Aoharaido, One-Punch Man, Noragami, Akame ga Kill!, Lovely Complex e muitos outros.

JBC
Editora nacional, sediada em São Paulo, em atuação desde meados de 2001, quando trouxe obras emblemáticas como Sakura Card Captors e Samurai X. Ficou conhecida por ter sido capaz de abrir o mercado brasileiro aos mangás, pois quando os quadrinhos eram o forte brasileiro, optou pelo formato “meio-tankōbon”, dividindo um volume em 2, e assim conseguindo preços competitivos em um mercado inexistente.
Entre seu catálogo, possui em curso obras como: Fullmetal Alquemist, My Hero Academia, Fairy Tail, Cavaleiros do Zodíaco, Nanatsu no Taizai, Magi, UQ Holder, To Love-Ru e muitos outros.

NewPop
Editora nacional, fundada em 2007, sediada em São Paulo, possui acervos de mangás, assim como as supracitadas, mas, como diferencial, é a única delas com publicação e investimento no mercado de Light Novels.
Entre seu catálogo, possui em curso obras como: Don Drácula, Usagi Drop, K-On, Fate Zero (light novel), No Game No Life (light novel), Log Horizon (light novel).

Bom, essa é a pincelada básica das três maiores empresas de lançamentos brasileiros.
Partindo disto, podemos começar a falar de acertos e erros que as três empresas cometem dentro do mercado.


Qualidade de material (mangás)
Essa começa sendo uma das maiores reclamações brasileiras; O papel. O difamado e amado papel.
Primeiro, é preciso entender como ocorrem as publicações japonesas, afinal, nosso material parte do lado nipônico.
Os mangás japoneses, em sua grande maioria (não todos) são primeiramente apresentados em revistas semanais (ou mensais), que podem ser revistas importantes, como a Weekly Shonen Jump ou a Kodansha, ou até mesmo as menos conhecidas ao público mais “normal”, como a Core Magazine, responsável por publicações de conteúdo adulto. Nelas, as obras são apresentadas em um papel reciclado, bem abaixo do papel jornal que podemos ler. PS.: As propagandas são apresentadas em papel específico para coloração, de qualidade extremamente superior, lembrando muito um couchê brilho (mas não tenho como comprovar). Muita esperteza.
Depois de a obra demonstrar potencial na revista, onde ela aparece em conjunto com diversas outras obras (e normalmente é daí que você consegue aquele Scan maroto que lê na internet), é que ela conquista seu direito de ser encadernada em um volume, tendo lançamento individual.
O mangá no Japão é algo comum, infestado e disseminado em larga escala, além de um “tiro no breu” (não total escuro), logo, ele é impresso de forma a gerar lucro, em uma versão nada definitiva, e que muitos japoneses logo se desfazem.
Os volumes de mangás no Japão possuem a conhecida sobrecapa que tantos falam, uma espécie de capa removível, que parece mais ser impressa em papel LWC. Retirando isso, normalmente nos deparamos com algum logo e outras coisas completamente “sem graça” (salvo exceções), e com o material do interior do mangá, que, ao contrário do que muitos tentam “difamar” no mercado brasileiro, também é feito com papel jornal, apesar de uma gramatura maior, visto que é uma pasta de celulose específica para os mangás japoneses (sim, existe uma indústria somente para isso no Japão).

Agora que você conhece o que é o mangá japonês, vamos ao brasileiro partindo da realidade. O mangá brasileiro, em sua grande parcela, é apresentado em papel Pisa-Brite 52g (52g é a gramatura. Se não souber o que é, uma rápida busca no google ensina), também chamado por alguns de papel jornal, mas, veja bem, o papel do jornal que é lido diariamente chega a variar de produções mais chulas, com 35g, até jornais de grandes empresas, com 48g. Então, sim, o papel dos mangás brasileiros é como o papel japonês, jornal, mas com qualidade menor.
Quem reclama que seu mangá é vendido em papel jornal, não sabe muito do que reclama, visto que essa versão dos mangás que é vendida no Brasil também não é considerada um formato para coleção... Apesar de nós, leitores, gostarmos de fazer a coleção.
Quando um mangá é feito para ficar na sua prateleira/estante, no Japão, ele acaba sendo chamado de Aizōban (edição colecionador) ou Kanzenban (edição de luxo). Tudo abaixo disso é feito para ser descartável, então, não há necessidade de um papel superior. A mesma ideia de produção básica acaba acontecendo aqui no Brasil (apesar de por motivos variados).

“Mas DarkKaos, tem os em off-set, que são divinamente superiores”
...Certo, tem mesmo... E vou ser curto e grosso. Off-set é lixo. Off-set não e luxo. Simples assim. A diferença entre o papel brite e o off-set é o processo de separação da lignina através de produtos químicos que o último recebe, pois até a falta de tratamento ambos compartilham. Por isso, ainda assim, seu mangá em papel jornal ou em papel off-set, vai acabar amarelando com o passar dos anos (claro, o jornal mais rápido), vai ter traças se não for bem cuidado, vai rasgar se alguém pegar como um retardado, vai marcar se estiver com as mãos engorduradas. Não adianta reclamar do papel jornal e pedir papel off-set, pois é trocar seis (6) por meia dúzia (6). E, apesar do que é falado do papel jornal, ele dura muitos anos quando bem cuidado. Amarela? Claro. Mas ainda conheço muitas pessoas com HQs e quadrinhos brasileiros de papel jornal lá da década de 80/90. O pai de um amigo de infância meu tem alguns volumes muito antigos de Tex Willer (uma HQ), que é lá da época de 75, e eles estão perfeitos apesar do amarelado. Tudo vai depender do seu cuidado.

Entre as empresas do mercado, a JBC é enxurrada de papel brite, com algumas obras em off-set; A Panini não fica muito atrás, mas tem alguns títulos de peso em papel off-set; A NewPop é a vencedora nesse quesito, pois seus mangás em papel brite são somente os do começo da editora, tendo em seu acervo atualmente basicamente papel off-set como marca registrada nos mangás.


Qualidade de material (light novel):
Aqui eu vou somente explicar, pois não há muito que comparar, visto que o mercado brasileiro só possui a NewPop nessa área.
No geral, as light novels da NewPop possuem capa cartonada e papel avena. Isso é o oficial. Como informações adicionais, eu fortemente acredito que as capas das light novels em alguns casos são triplex (cartonadas, com brilho em um lado e básicas do outro), laminados em alguns casos (com aquela película, como No Game No Life) e fosco em outros (como Log Horizon). No miolo das light novels, eu acredito que as páginas coloridas sejam impressas em couchê brilho e o texto é em papel avena, apesar de lembrar papel pólen em alguns momentos. O papel avena é um papel da linha off-white (ou seja, não é branco), com uma coloração levemente amarelada, não cansando a vista como a alvura do off-set e, pelos processos que passa, resistindo muito mais. Além disso, ao contrário dos mangás, que basicamente são colados à lombada (parte onde as folhas ficam juntas), as light novels da NewPop passam pela colagem e pelo processo de costura, que garantem maior durabilidade e sofisticação no quesito acabamento.


Preços:
O Brasil está em crise, e eu já estou de saco cheio de ouvir falar isso. A verdade é que devemos pisar em ovos ao falar de preço, pois existem vários fatores quando se trata do mercado brasileiro. Crise, royalties, licenciamento, tradução, tiragem, entre outros. Todos estes, são custos que o mangá japonês jamais vai passar (tá, a crise não deveria estar como “jamais vai passar”, mas finja que não sabe disso). É preciso sempre entender isso. Vamos pegar alguns exemplos para entender um pouco alguns fatores:

Ataque dos Titâs 17 – JP – 463 ienes (14,03 reais – Valor cambial de 08/11/16)
Fairy Tail 55 – JP – 453 ienes (13,73 reais – Valor cambial de 08/11/16)
No Game No Life (light novel) 6 – JP – 626 ienes (18,97 reais – Valor cambial de 08/11/16)

Agora, vou colocar os valores pelos quais estes mangás são vendidos no Brasil:

Ataque dos Titãs 17 – Português pela Panini – R$12,90
Fairy Tail 55 – Português pela JBC – R$13,90
No Game No Life 6 (Light Novel) – Português pela NewPop – R$23,90

Com isso, é possível notar o quesito preços com obras de peso das 3 (apesar de ter usado uma Light Novel pela NewPop) e o mesmo tipo de material quando tratamos de Panini X JBC.
Quando se olha por esta perspectiva (de apenas uma obra), nota-se uma ligeira curva melhor por parte da Panini, mas sempre deixo bem focado que ela é uma multinacional. Ela pode suportar uma pequena queda no valor para ganhar na quantidade. A JBC, apesar de ser nacional e dar uma subida legal em alguns de seus títulos (que em alguns casos provavelmente seja quesito licenciamento), ainda assim se mantém competitiva. Já a NewPop, dá uma leve aumentada, principalmente no quesito light novel, onde é possível notar um aumento brusco, mas também deve-se considerar a pouca longevidade da empresa e a perseverança em manter light novels. Além claro de possíveis questões de licenciamento (light novel e mangás jamais serão a mesma coisa).

É possível ver que o mercado possui preços até que aceitáveis, correto? Sim e não. Primeiro, quero explicar como funciona a venda de mangás no Japão. Lá, não existem bancas de jornal. Ou seja, aquela sua saidinha pra comprar um mangá, não acontece em uma banca de jornal, mas sim em lojas de conveniência (ou kombini, chame como quiser) ou então livrarias.
Enquanto isso, aqui no Brasil, mangás/light novels praticamente inexistem em livrarias e dominam as lojas de quadrinhos/bancas de jornal. Um dos fatores dos preços dos mangás aqui no Brasil, apesar de ser uma forma de ajudá-los em vendas, são as bancas de jornal. Elas são o dito “câncer” que a internet adora usar em tantas coisas.

“PORRA! DEIXA MINHA BANQUINHA EM PAZ!”
...Infelizmente, não posso deixar. Quem já acompanha (e para quem está começando), já sabe que não é possível achar produtos da NewPop em bancas de jornal. Claro, há casos em que o jornaleiro faz o pedido a parte, mas, no geral, não há. Motivo? O cartel da distribuição.
Não vou me aprofundar muito nisso. Sei que parece errado já que toquei no assunto, mas é por ser um caso delicado. O que é preciso saber é que distribuir para bancas é extremamente caro e inviável. Além disso, há percas por extravio, jornaleiros que não se dão o trabalho nem mesmo de expor seu produto de forma adequada e a devolução de títulos por não haver a venda dentro do período (bancas não mantém o título no catálogo por vários meses). O que a NewPop fez foi dar um tapa com luva de pelica na distribuição. Acredito que este não seja um futuro tão longe também para a JBC, pois ela já demonstra maiores cuidados com os fãs que fazem compras por lojas especializadas (brindes exclusivos) e outros "mimos" para os assinantes. Do meu ponto de vista, a Panini é a que mais pode se segurar nisso. Quanto tempo ainda você terá para aproveitar seu mercado? Muitos anos. Não é uma decisão fácil e, com certeza, em um primeiro momento, vai afastar muitos compradores. Mas a mudança possivelmente geraria uma diminuição nos valores de capa (valor oficial do produto)... Apesar de a NewPop ter se negado a mostrar esta realidade. E é aí que não acho os preços brasileiros aceitáveis. A NewPop já se livrou desse cartel, comentou não ter amargado perdas neste meio tempo, mas seus preços não tiveram real mudança. Dizer que isto possibilitou a "não subir" é uma forma bem ridícula de mostrar que o modelo é necessário.
No resumo, é uma mudança que precisa estar acompanhada de uma real vantagem. Por enquanto, fique tranquilo, seus mangás não vão desaparecer da banca, mas acostume-se caso os brindes comecem a desaparecer cada dia mais das bancas (principalmente os marcadores que acompanham nos volumes da Panini, já que atualmente parece ser a única a mandar para as bancas isso).


Acabamentos (Mangá + Light Novel)
Sim, eu sei, material e acabamento são quase a mesma droga, mas resolvi deixar separado para deixar o comentário sobre interior e exterior separados.
O mercado nacional trabalha diferente do japonês. Como deixei citado acima, os mangás japoneses possuem sua “jaqueta” na capa, sendo ela mais para decoração e ser guardada (sim, as capas de mangá japoneses estragam mais rápido que o difamado papel brite brasileiro).
Ao contrário do Japão, nossos mangás são colados diretos na capa, formando um conjunto único. O primeiro ponto é que isto gera economia. O segundo é o trabalho com as bancas, que estragariam estas capas especiais em questão de dias.
Muitos reclamam por não adotarem as sobrecapas em todos os mangás e eu concordo no ponto que, como os mangás vão colados a um material mais "rígido", as folhas no interior muitas vezes parecem não abrir corretamente e levemente "amassar" próximas da área colada. Mas, apesar disso, muitos japoneses compram certos acessórios para guardar seus mangás, exatamente porque ele estraga muito fácil por não ter uma capa. Sendo assim, essa forma do Brasil até é sensata, quando vista por esse lado, mas isso ainda não nos livra da estupidez.
Muitos mangás acabam ficando sem orelhas, com áreas internas da capa simplesmente em branco, ou em alguns casos simplesmente pintadas de uma cor, mas sem mais nada. A "capa" (não a sobrecapa) de alguns mangás japoneses contém algumas informações, então seria legal replicar isso no interior da capa. Claro, alguns mangás já fazem isso, contendo informações do autor, imagens, e isso é um ponto até que positivo. Sendo assim, é uma estupidez com ressalvas para esforço.

Falando em esforço, eu já disse que odeio as bancas com todas as minhas forças? Sabe aquele mangá que você olha um lado, olha o outro, olha o primeiro lado novamente, olha o outro lado mais uma vez... e no fim os dois lados são iguais? Também é conhecido como capa espelhada. O motivo? Além da economia da editora, existe o motivo de “espelhar” a capa para o jornaleiro não se equivocar na hora de deixá-lo exposto. ISSO É UMA BOSTA. Capas espelhadas deveriam simplesmente ser abolidas. É o pior acabamento que um material pode vir a receber. Apesar disso, não posso dizer que seja algo tão recorrente atualmente.

Mas para realmente falar em acabamento, eu preciso mudar o foco... Você tem toc? Aquele tal transtorno obsessivo compulsivo? Aquele que ver os lápis de cor tudo em ordem te dá um prazer imenso? Que ver aquele ladrilho da calçada destoante te deixa com vontade de matar a pessoa que fez? Não? Nossa, que bom. Pois se você tiver, o mercado nacional (e também o próprio internacional) te deixa com vontade de ir dentro da área de diagramação da editora e querer matar todos e ser digno de participar de algum grupo terrorista. É impressionante a falta de capacidade de diagramação correta de capas.
Veja bem... Existem sim “desproporções” da própria tiragem na máquina. É praticamente impossível, e extremamente caro, fazer a impressão de 20/30 volumes de uma mesma obra sem um “pequeno” deslize, mas alguns são tão bizarros, que chegam a te deixar alucinado. Principalmente em mangás que formam algum desenho quando colocados lado a lado.
Exemplo da tiragem de Dragon Ball - Fonte: Nana no nikkichō

É possível ver pequenos detalhes desproporcionais? Sim, mas até não incomodam, afinal, é para ser a edição comum. Eles, por sinal, são bem mais comuns do que se imagina.
Exemplo da tiragem de Dragon Ball (definitiva).

Como é possível uma edição que deveria ser mais bem trabalhada estar com aquele volume 1 ali sendo tomado pela capa, e no geral todos desparelhos?

Exemplo da tiragem de Orange. - Alguém esqueceu como seria escrito o nome do autor?
Exemplo da tiragem de Berserk. - Quem tirou a plataforma do volume 9?

Além destes problemas acima, que ocorrem direto na lombada e que por si só já são feios, existem casos em que a lombada adentra a capa, ou em que a capa toma a lombada. Por isso mesmo, algumas capas já são feitas para não ter este problema.
Note a lombada verde do volume 1 adentrando na parte branca da capa (à esquerda), e a parte branca da capa do volume 2 adentrando na lombada (também à esquerda).
Exemplo de capa contínua de Fate Stay Night, uma “boa” opção para fugir do problema.

Mas de quem é a culpa? Em casos graves da lombada completamente fora de nível com o passar das edições ou erros de tipografia, da editora. Quando o erro é pequeno, como os casos de invasão de capa ou de lombada, normalmente é da baixa qualidade do maquinário da gráfica (apesar de existirem casos onde a culpa é da editora) e, em alguns casos, a culpa é do próprio Japão. Normalmente, os mangás precisam passar por longas “aprovações” de capa, em um processo que a capa editada pelo Brasil é verificada pelos japoneses, que costumam fazer uma série de reclamações e devolvendo. Assim, começa um imenso vai e volta. Chega a um ponto, que nenhum dos lados cuidou da diagramação como era necessário e a bosta foi feita.


Tradução
Tradução é algo complicado, e quero deixar alguns pontos sobre como eu decido coisas aqui na minha tradução amadora de High School DxD.
Primeiro de tudo, é preciso entender a diferença de tradução literal e tradução fiel. Quem pegar minha tradução, notará que não copio cada verbete ou cada sílaba da tradução em inglês. Em alguns momentos por usar a frase direta do japonês, em outros por simplesmente achar que a frase ficaria péssima daquela forma. Isso é deixar de fazer uma tradução literal. Mas o conteúdo, a mensagem que era para estar, foi passada, e nesse momento, me permiti usar uma tradução fiel. Até mesmo algumas piadinhas no estilo de fala eu adapto para algo que faça mais sentido para nós.
É preciso entender que a intenção do autor, que tantos usam para dar seus “ataques otaku” não significa que a frase deveria dizer A + B, mas sim que o resultado daquela frase deve ser AB. O autor, quando fez a obra pensou na forma de se expressar e, por isso, o importante é que o leitor, seja em qual for o idioma, entenda. Então, é preciso compreender sempre que a intenção do autor é ter sua atenção, seja com frases impactantes, com piadas, ou com a personalidade de algum personagem. Nem sempre é necessário que a mesma palavra esteja ali. Principalmente quando ela não faz sentido em seu idioma.
Em segundo lugar, utilizo muito a norma “padrão”, que é o nível logo abaixo da culta. O que é a norma padrão? Este texto que está lendo. Ele possui momentos mais “focados”, mas, ainda assim, ele deixa transparecer uma linguagem mais solta. Esta é a tradução que uso para DxD. Tento deixar o texto de forma com que todos consigam ler, mas dificilmente alguém falaria daquela forma no dia a dia, afinal, é um livro, não um bate papo.

Agora que você entende meu ponto de vista sobre uma tradução, como leitor, explicarei cada editora em tópicos separados:

Panini: Tradução ao pé da letra. Todo honorífico, toda citação japonesa, toda maldita piada que somente um usuário de fóruns japoneses entenderia, está lá. O que isso significa? Que ou você é ligado na cultura japonesa, ou você vai passar meio batido e simplesmente seguir o jogo, achando que “entendeu” a piada. Isso é interessante para nós, ligados à cultura, mas para alguém iniciando no mundo dos mangás (em grande parte garotas com os shoujos... acredite) pode acabar completamente perdido (como uma amiga questionou algumas coisas quando leu um volume de Aoharaido). O uso de cultura otaku (como nyah pra cá, nyah pra lá), é meio estúpido quando o material ganha proporções diferentes de uma tradução “não profissional”, e poderia facilmente ser adaptado de uma forma mais “suave”, principalmente em uma tradução como a da Panini, que utiliza um vocabulário mais solto.

JBC: Esta a galera cai matando. Por quê? Porque tudo que é japonês e não tem sentido em nosso idioma, some. Honoríficos cortados, piadas trocadas para nossa realidade brasileira, abreviação de termos. No geral, concordo em muitos casos com os leitores. Não gosto do esquema de pegar e ficar falando “tá”, “cê”, “pera” e tudo mais quando estou lendo. Não sou tão fã de uma tradução completamente informal. São muitos termos juvenis, mas, ainda assim, eu entendo a aproximação com um público menos “formal” e menos habituado com a leitura. Além disso, apesar de gostar dos honoríficos, entendo a retirada deles para uma melhor aproximação com um leitor que simplesmente resolveu comprar algo de uma banca... E sabe por que entendo? Porque certos honoríficos não são tão fáceis de se explicar. Os mangás da Panini explicam a utilização do “kun”, e até explicam sobre quando esse kun aparece para uma mulher. Mas, caro padawan, “kun” não é somente para homens/meninos e chan não é somente para meninas/mulheres, e aí o uso excessivo de honoríficos empobrecerá a leitura, pois ele simplesmente perde o significado, já que essa não é a única quebra de regra existente. Muitos leem os honoríficos e não entendem o real motivo dele constar ali, pois não conhecem nada real da cultura japonesa, somente os animes. Lembram-se da minha matéria sobre otaku e o que isso significa ou não? Mesmo caso.

NewPop: Vou tratar basicamente das light novels, único material da NewPop que li até o momento.
A tradução da NewPop é complicada, e está atrelada em grande parte a algo que não comentei nas outras duas editoras. Não que não ocorra com elas, mas a intensidade é mínima perto deste caso aqui. O que seria isso? Revisão.
A tradução da NewPop parece uma mescla entre Panini e JBC. Os termos não possuem praticamente honoríficos e a linguagem fica trocando entre formal e chula. As piadas são traduzidas realmente ao pé da letra, mas possuem notas de tradução. Mas por ser um livro, possui muito mais texto do que um mangá, logo, muito mais espaço para errar. E meu Deus, como erra. Tem tanto erro de português em uma tradução de uma light novel da NewPop que dá pra fazer um capítulo somente de erros. Mas, apesar de deixar o texto aqui menos rico, prefiro entrar neste detalhe em outro artigo.
Mas, mesmo assim, no final, a mensagem está lá. É possível entender, ler e assimilar, mas não corrige os erros presentes. Apesar disto, como comentei, ela não é a única a errar na revisão, mas é que vale a pena comentar isto dela, não das outras.

“Mas DarkKaos, eu gosto que a obra seja 100% igual ao japonês, porque assim eu entendo tudo de lá.”
1 – Mangá/light novel não é livro didático;
2 – Mangá/light novel não irá te ensinar nem 1/3 sobre o Japão;
3 – Mangá/light novel distorce muito da cultura.
4 – Quer 100%? Somente lendo em japonês...
Quando se fala em 100%, somente o mangá/light novel em japonês irá te proporcionar isso. E, acredite, você ainda assim ficará perdido. Como exemplo, pego No Game No Life, que é uma obra que usa de diversos termos que surgiram por zoação de outros animes. Resultado? Diversas piadas durante a obra só possuem sentido quando você conhece as piadas que passaram a mais de 3/4/5 anos no 2chan (não conhece o 2chan? Aí está a prova de como não é bem assim assimilar um conteúdo 100%).
Certos termos da cultura japonesa são pobres para nosso idioma, não acrescentam em nada e dão uma falsa sensação de entendimento da cultura, causando mais confusão aos ditos “entendedores” do que demonstrando a hierarquia japonesa.
Eu consigo facilmente imaginar estes problemas, já que a primeira coisa que aprendi do meu professor (sensei?) quando comecei a estudar japonês foi como falar de si mesmo: “Watashi”, “Atashi”, “Ore”, “Boku”, “Watakushi”, “Uchi”, “Jibun”, “Washi”, “Ware”, “Maro” e até mesmo o próprio nome. Só pra constar, não listei todas as formas de falar “eu”...
Ainda assim, em alguns momentos é preciso de um pouco de cuidado ao traduzir os honoríficos. Não basta pegar o “sama” e concluir que significa senhor/senhora. É preciso ler o clima, entender a situação e, principalmente, as pessoas envolvidas. Por exemplo, se alguém da minha idade me chamasse de “DarkKaos-sama”, eu jamais traduziria como “Sr. DarkKaos”, mas sim “caro DarkKaos”. Ou então alguém mais velho, em um tom amigável, poderia significar "jovem DarkKaos", mesmo existindo uma forma própria para falar jovem. Então é necessário certo cuidado nessas traduções.
Lembre-se, o autor muitas vezes escolhe certos honoríficos ou termos, sejam quais forem, para dar ênfase em uma situação, em uma piada, em um comportamento. Se a tradução não passa isso, e simplesmente empurra o termo em japonês para quem está ali, o tradutor falhou ao apresentar isso.

“AH! MAS ENTÃO O DARKKAOS É TIME JBC!”
...Também não. Certas piadas da JBC não me agradam. Um exemplo mais recente é o volume de My Hero Academia, com a frase do Bambam. É errado? Não. A internet esteve impetrada com as frases desse projeto de criatura por meses. Então, a JBC pegou o sentido da piada e colocou no mangá. Errou? Não. O ato de traduzir consiste no fato de adaptar. O sentido se manteve lá e acabou surgindo uma piada para "alguns" leitores. Ela vai durar por anos? Não, e nenhum livro leva isso em consideração (comentei ali em cima sobre os casos de No Game No Life). Mas, eu gosto? Não muito, até porque eu não vi graça alguma na situação do Bambam. Mas isso não é motivo pra sair pela internet dizendo que o trabalho foi “estragado” por conta disso. Foi simplesmente uma ideia que agradará uma parcela, desagradará outra, e não fará a mínima diferença para uma outra. Se você conhecia antes de viralizar e agora reclama porque isso é um câncer e blá blá blá... Sério, do lado de fora da internet existe uma vida. Viva ela.
Então, como comentei acima, ambas as editoras têm erros e acertos. Basta você decidir de forma imparcial se aquilo realmente é um erro ou não.

Por fim, um exemplo de algo que li uma vez pela internet, e que faz um grande sentido para a área da tradução. A Bíblia Sagrada. É um grande livro, traduzido de uma tradução que foi traduzida de outra tradução que foi traduzida de outra tradução...... As palavras, nomes, ditados, várias coisas mudaram e se perderam, e ela demonstra como é sempre óbvio a perca em uma tradução, mas, no final, ela ainda passa as suas mensagens.

Considerações finais
O mercado brasileiro de mangás precisa evoluir mais um pouco. Essa é a verdade. No quesito papel, me lembro de algumas pessoas reclamando da “transparência” dos mangás mais antigos, por conta da baixa gramatura, coisa que hoje em dia já é bem menos comum.
Sinceramente, não vejo porque largar o papel jornal, mas é preciso aumentar sua gramatura (crucifiquem-me, mas o papel off-set é ruim para leitura, também irá amarelar e costuma ter gramatura muito baixa, sendo quase transparente).
Também é preciso que o mercado reaja de forma melhor no sentido reimpressão de volumes. Fazer uma tiragem e pronto. Essa história do povo pedindo os volumes que a editora não tem mais, foge completamente da ideia de “coleção”, que tantos gostam de fazer. É caro para a editora fazer uma reimpressão de baixa tiragem e isso somente afeta as vendas. Mas também não adianta lançar uma coleção inteira em papel jornal e depois lançar a mesma coleção em papel off-set... Se for para reimprimir, é preciso trazer uma real versão de colecionador ou luxo, já que a normal já haveria sido lançada, e também necessitaria de um maior cuidado principalmente ao português e acabamentos, não o mais do mesmo. Até defendo a reimpressão como ocorreu de Love Hina e Fullmetal. As novas não são de luxo, mas corrigem a modalidade usada quando o mercado ainda estava sendo construído. O maior problema, é que talvez o mercado brasileiro de mangás ainda não esteja preparado para entender a diferença de algo baixo custo para algo verdadeiramente de “colecionador”.
Talvez quando as editoras abandonarem as bancas, possamos ter um maior investimento na qualidade dos mangás de baixo custo, assim tornando-os mais "belos" para a galera que reclama da qualidade.

Já na área de light novels, primeiro o mercado precisa entender que este é um nicho interessante. Se não fosse, a NewPop não diria que sua primeira metade de 2016 havia sido boa, enquanto as outras empresas estavam chorando as pitangas. Ter somente a NewPop traduzindo light novels é triste, e sempre nos lembra que nunca veremos um grande conteúdo como To Aru Majutsu no Index, Mahouka Koukou no Rettousei, Accel World, ou até mesmo Sword Art Online: Progressive.

Sobre tradução, todas as três ainda precisam melhorar. Tanto a Panini quanto a JBC possuem manias meio chatas de forçar um sotaque pela metade nas frases(sim, Panini, eu conheço Dragon Ball), então aquela minha reclamação da JBC também existe para a Panini. Em alguns momentos até fica legal, assim como há os sotaques nos mangás japoneses, mas em alguns momentos ficam meio perdidos nos mangás brasileiros, pois acabam achando que um "ocê" por si só significa criar um sotaque do interior.
Por parte da NewPop, é o que já falei e vou deixar ainda mais exposto no futuro... É necessário corrigir urgentemente, e de uma vez por todas, a quantia absurda de erros bobos de revisão. É preciso mais investimento em revisores. Meu próximo artigo será sobre uma light novel, aí será possível entender o que estou dizendo.

O quesito acabamento, diagramação e afins das editoras é mais difícil ainda, pois dependem em grande parte das gráficas e materiais. E isso, não é algo que se resolve sem que o investimento surja fora das editoras. Também é preciso entender que todos esses problemas, e até mesmo o do papel, irão encarecer os mangás. Não há milagre.

Em quesito conteúdo o mercado nacional tem títulos de peso, possuindo um bom acervo dos mangás mais vendidos no Japão. Apesar das reclamações de alguns usuários, o mercado nacional não comporta ser entulhado de conteúdos todos os meses, e, por isso, muitos títulos são bimestrais/trimestrais, o que ajuda bastante a dar uma aliviada no bolso de quem segue muitas “coleções”.

Por fim, entendam. Não defendi nenhuma das três. A Panini já foi muito crucificada por seus papéis carimbarem os dedos dos leitores e cancelou títulos faltando APENAS um volume para acabarem; A JBC já foi crucificada por seus papeis serem mais transparentes do que papel manteiga e por não ceder ao off-set; A NewPop é crucificada por seus terríveis erros de português e a periodicidade, que é algo inexistente.
Enfim, todas possuem problemas e não há motivos para brigar por nenhuma delas.

Acho que deixei o assunto muito comprido, mas não vejo como poderia cortar mais. Caso você tenha lido até aqui, parabéns. Hahaha.

Caso tenha gostado do assunto, compartilhe, comente, curta.
Caso sinta vontade, contribua com o site. Há um botão na lateral para fazer uma doação. Seria muito importante para assim o site poder continuar de pé. o/